Percebo nas fotos tiradas por Meg
Yamagute uma característica marcante de mostrar como as pessoas e as coisas
ocupam os espaços. Lugares os quais habitam ou estão de passagem, mas que neles
são perpetuadas em determinadas situações que cada clique captura. Contudo, a
relação entre os objetos que cohabitam suas obras imprime quase sempre uma
sensação de solidão comum aos grandes centros. Em contraste a tal sentimento
está o calor que suas cores marcantes dualmente nos proporcionam, o que
evidencia uma escolha de olhar sobre o mundo desta fotógrafa que começou sua
carreira em Londrina e hoje vive no Japão. Um olhar amoroso. Seu trabalho já
flertou com espetáculos e filmes ao fotografá-los, mas foi nos registros
documentais que ele se encontrou e transborda. Portanto, este foi o critério
que se impôs na escolha de quais de suas obras fariam parte do mural aqui
exposto. Infelizmente muitas das belíssimas fotos de animais e paisagens feitas
por Meg ficaram de fora, mas poderão ser descobertas pelos que se interessarem
pelo seu trabalho. Seu retrato, no canto
superior direito do mural, feito enquanto esperava
pessoas interessantes passarem para fotografar em Tóquio, é de Timothy Buerger.
A entrevista segue abaixo:
1. Quais
os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como
espectador(a)?
Sempre gostei muito de revista... Mesmo
antes de entender o conteúdo das matérias, adorava folhear revistas observando
as fotos... Despertava uma imensa curiosidade sobre o mundo lá fora... Quando
adolescente, lia muito a Revista Capricho e o trabalho de alguns fotógrafos
passou a chamar a minha atenção, e percebi que poderia ser uma opção na escolha
de uma profissão.
2. Qual a sua formação?
Fiz Comunicação Social - Jornalismo, na
Universidade Estadual de Londrina e me especializei em Fotografia pela mesma
universidade.
3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve
um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Bom, não sei dizer se o que faço é
realmente arte, ou se me considero artista... Desde que a velha questão de
"o que fazer quando crescer" surgiu, achei a fotografia a opção mais
atraente, por isso resolvi cursar Jornalismo. Fotojornalismo sempre foi uma
área que gostei muito. Desde que fotografo, ouço dizer que as minhas fotos são
artísticas, mas acho difícil dar rótulos... Considero minhas fotos mais
documentais do que artísticas mas hoje em dia muito da fotografia documental
tem seu espaço nos museus de arte e são consideradas tão artísticas quanto
documentais... Nunca pensei em ser artista, mas sempre almejei viver de
fotografia. Já que dedicamos grande parte do tempo de nossas vidas trabalhando,
gostaria que fosse fazendo algo que me desse prazer.
4. Você pode nos contar um pouco da sua
carreira?
Desde que concluí a faculdade de
Jornalismo, me dediquei à fotografia fazendo freelas, exposições e cursos. Em
2006 resolvi morar no Japão mas, somente em 2009 passei a morar em Yokohama,
cidade bem próxima a Tóquio, onde pude me dedicar mais à fotografia, estudando
e fotografando com frequencia.
5. Quais artistas lhe influenciaram?
Certamente os fotógrafos cujo trabalho
conheci nos tempos em que percebi a fotografia como uma opção de vida, como
Pedro Martinelli, Maureen Bisilliat, CristianoMascaro e Vânia Toledo e tantos outros mestres que vim a descobrir depois,
como Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau, Robert Capa, Elliott Erwitt... Não as famosas fotos de guerra de muitos deles, mas aprecio muito as
do cotidiano nas ruas, as pessoas comuns em momentos banais. Os trabalhos documentando as guerras são
impressionantes, mas o cotidiano retratado por eles, numa cidade qualquer, que
poderia ser Berlin, Tóquio ou São Paulo são pra mim a grande inspiração.
6.
Quando
passou a se considerar profissional?
Ainda não me considero profissional
porque ainda não consigo viver de fotografia, infelizmente. Mas certamente é
muito mais do que um hobby na minha vida. Fotografia, para mim, é uma opção de
vida.
7. Qual era a ideia que você tinha da
profissão antes de exercê-la?
Sempre li muitas entrevistas de profissionais, desde que me interessei pela atividade, por isso sempre imaginei uma profissão árdua, em que é preciso saber lidar com pessoas, ter muita paciência e uma eterna curiosidade pelas coisas. Quando comecei a pensar em fotografia, ainda adolescente, e lia muito sobre a vida e o trabalho dos fotógrafos, o que mais me encantou foi a possibilidade deles se dedicarem às grandes reportagens... Revistas como a Life Magazine, National Geographic e, no Brasil, a Revista Realidade, que dedicavam páginas e páginas a um determinado assunto, com matérias aprofundadas e imagens belíssimas com meses de trabalho... Porém, o cenário já era outro antes mesmo de eu ingressar na faculdade. A Revista Realidade morreu antes mesmo de eu nascer e no Brasil não encontrei nada parecido que a tenha substituído, o jornalismo impresso já não tinha recursos para bancar matérias e a internet mudou muita coisa no mercado editorial... Enquanto cursava jornalismo, o que era impensável para mim aconteceu: a Life Magazine deixou de ser impressa.
8. Qual é a ideia que você tem da
profissão hoje que a exerce?
Continuo achando um trabalho árduo, de muita paciência e que exige muita curiosidade. O foto documentário não morreu. Mas foi preciso reinventá-lo. Vejo muitos fotógrafos fazendo trabalhos incríveis de modo independente, como projetos pessoais. Os recursos são escassos, mas não a paixão pela fotografia.
9. Como é o seu dia de trabalho?
Trabalho durante o dia para pagar as contas e todo o resto do dia e dias de folga são dedicados à fotografia de alguma forma. Seja fotografando, editando, lendo, conhecendo novos trabalhos ou trabalhando como assistente fotográfico ou fazendo freelas.
10. Seu trabalho foi beneficiado com a
internet e as redes sociais? Como?
Certamente, através da internet pude conhecer muitos profissionais, trocar idéias, aprender, enfim, enriquecer o olhar fotográfico, além de divulgar o meu trabalho.
11. É possível pagar as contas tendo a arte
como ofício? Como você faz?
Ainda não, mas não perdi as esperanças! Trabalho só pra pagar as contas... Me dedicando à fotografia durante todo o tempo restante!
12. Como você acredita que será o futuro da
sua profissão?
Desde que comecei a aprender fotografia,
com filmes, revelações e ampliações, muita coisa mudou, e ainda está mudando
muito, por isso é difícil dizer. Apesar da fotografia viver tempos cada vez
mais banalizados, com todo mundo fotografando seus belos cappuccinos e
compartilhando com o mundo, sabemos que isso não é fotografia praticada como
arte nem como profissão, e que, por outro lado, todas essas tecnologias
aproximam as pessoas da fotografia, criam um interesse maior pela atividade e,
por consequência, maior valorização. Por outro lado, infelizmente sinto que
essa produção imagética em massa, sem muito pensar, cria uma quantidade de
imagens tão grande que, cada vez mais as pessoas absorvem menos, analisam
menos, apreciam menos. A quantidade de informações, inclusive de imagens, é tão
grande que ninguém tem tempo para parar e apreciar, analisar, viajar com o
olhar sob toda a imagem. Acredito que esse hábito de olhar fotos compartilhadas
pelo tempo suficiente para "dar um like" crie, a longo prazo, uma
educação do olhar instantâneo. Não o instantâneo porque você pode conferir a
imagem no instante em que foi produzido, mas o de olhar a foto por um breve
instante e decidir, gosto ou não gosto, porque não se tem tempo e é
"necessário" partir para a próxima imagem, que também será vista
somente por um breve instante. Com o avanço tecnológico, é cada vez mais fácil
encontrar fotógrafos por aí, mas acredito que sempre haverá espaço para todos.
13. Fale sobre o que você gostaria do seu
trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Essa última pergunta, não consegui pensar em nada...
Acho que porque geralmente digo as coisas, mesmo que não me perguntem! :P
Para conhecer mais do trabalho de Meg
Yamagute, visite seu Flickr:
E visite seu blog, que fala sobre o
Japão e a Fotografia:
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