quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Entrevista com Meg Yamagute



Percebo nas fotos tiradas por Meg Yamagute uma característica marcante de mostrar como as pessoas e as coisas ocupam os espaços. Lugares os quais habitam ou estão de passagem, mas que neles são perpetuadas em determinadas situações que cada clique captura. Contudo, a relação entre os objetos que cohabitam suas obras imprime quase sempre uma sensação de solidão comum aos grandes centros. Em contraste a tal sentimento está o calor que suas cores marcantes dualmente nos proporcionam, o que evidencia uma escolha de olhar sobre o mundo desta fotógrafa que começou sua carreira em Londrina e hoje vive no Japão. Um olhar amoroso. Seu trabalho já flertou com espetáculos e filmes ao fotografá-los, mas foi nos registros documentais que ele se encontrou e transborda. Portanto, este foi o critério que se impôs na escolha de quais de suas obras fariam parte do mural aqui exposto. Infelizmente muitas das belíssimas fotos de animais e paisagens feitas por Meg ficaram de fora, mas poderão ser descobertas pelos que se interessarem pelo seu trabalho. Seu retrato, no canto superior direito do mural, feito enquanto esperava pessoas interessantes passarem para fotografar em Tóquio, é de Timothy Buerger. A entrevista segue abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Sempre gostei muito de revista... Mesmo antes de entender o conteúdo das matérias, adorava folhear revistas observando as fotos... Despertava uma imensa curiosidade sobre o mundo lá fora... Quando adolescente, lia muito a Revista Capricho e o trabalho de alguns fotógrafos passou a chamar a minha atenção, e percebi que poderia ser uma opção na escolha de uma profissão.

2.    Qual a sua formação?

Fiz Comunicação Social - Jornalismo, na Universidade Estadual de Londrina e me especializei em Fotografia pela mesma universidade.

3.    Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Bom, não sei dizer se o que faço é realmente arte, ou se me considero artista... Desde que a velha questão de "o que fazer quando crescer" surgiu, achei a fotografia a opção mais atraente, por isso resolvi cursar Jornalismo. Fotojornalismo sempre foi uma área que gostei muito. Desde que fotografo, ouço dizer que as minhas fotos são artísticas, mas acho difícil dar rótulos... Considero minhas fotos mais documentais do que artísticas mas hoje em dia muito da fotografia documental tem seu espaço nos museus de arte e são consideradas tão artísticas quanto documentais... Nunca pensei em ser artista, mas sempre almejei viver de fotografia. Já que dedicamos grande parte do tempo de nossas vidas trabalhando, gostaria que fosse fazendo algo que me desse prazer.

4.      Você pode nos contar um pouco da sua carreira? 

Desde que concluí a faculdade de Jornalismo, me dediquei à fotografia fazendo freelas, exposições e cursos. Em 2006 resolvi morar no Japão mas, somente em 2009 passei a morar em Yokohama, cidade bem próxima a Tóquio, onde pude me dedicar mais à fotografia, estudando e fotografando com frequencia.

5.      Quais artistas lhe influenciaram?

Certamente os fotógrafos cujo trabalho conheci nos tempos em que percebi a fotografia como uma opção de vida, como Pedro Martinelli, Maureen Bisilliat, CristianoMascaro e Vânia Toledo e tantos outros mestres que vim a descobrir depois, como Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau, Robert Capa, Elliott Erwitt... Não as famosas fotos de guerra de muitos deles, mas aprecio muito as do cotidiano nas ruas, as pessoas comuns em momentos banais. Os trabalhos documentando as guerras são impressionantes, mas o cotidiano retratado por eles, numa cidade qualquer, que poderia ser Berlin, Tóquio ou São Paulo são pra mim a grande inspiração.

6.      Quando passou a se considerar profissional?

Ainda não me considero profissional porque ainda não consigo viver de fotografia, infelizmente. Mas certamente é muito mais do que um hobby na minha vida. Fotografia, para mim, é uma opção de vida.

7.      Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Sempre li muitas entrevistas de profissionais, desde que me interessei pela atividade, por isso sempre imaginei uma profissão árdua, em que é preciso saber lidar com pessoas, ter muita paciência e uma eterna curiosidade pelas coisas. Quando comecei a pensar em fotografia, ainda adolescente, e lia muito sobre a vida e o trabalho dos fotógrafos, o que mais me encantou foi a possibilidade deles se dedicarem às grandes reportagens... Revistas como a Life Magazine, National Geographic e, no Brasil, a Revista Realidade, que dedicavam páginas e páginas a um determinado assunto, com matérias aprofundadas e imagens belíssimas com meses de trabalho... Porém, o cenário já era outro antes mesmo de eu ingressar na faculdade. A Revista Realidade morreu antes mesmo de eu nascer e no Brasil não encontrei nada parecido que a tenha substituído, o jornalismo impresso já não tinha recursos para bancar matérias e a internet mudou muita coisa no mercado editorial... Enquanto cursava jornalismo, o que era impensável para mim aconteceu: a Life Magazine deixou de ser impressa.

8.      Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Continuo achando um trabalho árduo, de muita paciência e que exige muita curiosidade. O foto documentário não morreu. Mas foi preciso reinventá-lo. Vejo muitos fotógrafos fazendo trabalhos incríveis de modo independente, como projetos pessoais. Os recursos são escassos, mas não a paixão pela fotografia.

9.      Como é o seu dia de trabalho?

Trabalho durante o dia para pagar as contas e todo o resto do dia e dias de folga são dedicados à fotografia de alguma forma. Seja fotografando, editando, lendo, conhecendo novos trabalhos ou trabalhando como assistente fotográfico ou fazendo freelas.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Certamente, através da internet pude conhecer muitos profissionais, trocar idéias, aprender, enfim, enriquecer o olhar fotográfico, além de divulgar o meu trabalho.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Ainda não, mas não perdi as esperanças! Trabalho só pra pagar as contas... Me dedicando à fotografia durante todo o tempo restante!

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Desde que comecei a aprender fotografia, com filmes, revelações e ampliações, muita coisa mudou, e ainda está mudando muito, por isso é difícil dizer. Apesar da fotografia viver tempos cada vez mais banalizados, com todo mundo fotografando seus belos cappuccinos e compartilhando com o mundo, sabemos que isso não é fotografia praticada como arte nem como profissão, e que, por outro lado, todas essas tecnologias aproximam as pessoas da fotografia, criam um interesse maior pela atividade e, por consequência, maior valorização. Por outro lado, infelizmente sinto que essa produção imagética em massa, sem muito pensar, cria uma quantidade de imagens tão grande que, cada vez mais as pessoas absorvem menos, analisam menos, apreciam menos. A quantidade de informações, inclusive de imagens, é tão grande que ninguém tem tempo para parar e apreciar, analisar, viajar com o olhar sob toda a imagem. Acredito que esse hábito de olhar fotos compartilhadas pelo tempo suficiente para "dar um like" crie, a longo prazo, uma educação do olhar instantâneo. Não o instantâneo porque você pode conferir a imagem no instante em que foi produzido, mas o de olhar a foto por um breve instante e decidir, gosto ou não gosto, porque não se tem tempo e é "necessário" partir para a próxima imagem, que também será vista somente por um breve instante. Com o avanço tecnológico, é cada vez mais fácil encontrar fotógrafos por aí, mas acredito que sempre haverá espaço para todos.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Essa última pergunta, não consegui pensar em nada... Acho que porque geralmente digo as coisas, mesmo que não me perguntem! :P


Para conhecer mais do trabalho de Meg Yamagute, visite seu Flickr:
E visite seu blog, que fala sobre o Japão e a Fotografia:


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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Entrevista com Marcelo Manzano


Sinto-me abraçado pela voz e delicadeza que Marcelo Manzano imprime em suas interpretações ao piano. Ao ouvi-lo penso numa qualidade interpretativa perdida nas músicas que chegam ao rádio já há algumas décadas e lamento que tal sofisticação, por falta de execução, seja tomada por erudita e, em razão disso, inacessível ao grande público. Um equívoco! Seu disco, “Falo por meu coração” (2011), no qual homenageia Dick Farney, o notório cantor e pianista brasileiro que as novas gerações não descobriram, apresenta um repertório de grande beleza já, de certa forma, assimilado outrora, quando havia espaço a este tipo de produção nas rádios. Lembro de em nosso encontro, ocorrido em 06/12/12, Marcelo afirmar que não é um músico de shows, ou seja, quando o público pagante vai a um local exclusivamente para assistir a um artista, mas de apresentações, que faz trilha ao encontro das pessoas e, vez ou outra, tem a atenção de um espectador capturado por sua interpretação. Embora se apresentar nas antigamente chamadas boates, que hoje têm piano bares e restaurantes sofisticados como substitutos, tenha sido um caminho que o próprio Dick Farney e outros músicos do gênero fizeram, penso que se ainda houvesse espaço na grande mídia para o tipo de tratamento que Manzano dá ao seu repertório, teríamos também o privilégio de ouvi-lo mais em disco. Ainda bem que, dentre as reconfigurações da indústria cultural, a produção independente também viabiliza trabalhos como o dele, dentre outras características, importantes para o resgate de nossa memória musical. E quando isso ocorre com obras que possuem assinatura própria, como a de Marcelo Manzano, deve-se usufruí-las e compartilhá-las. As fotos do nosso encontro no seu apartamento em São Paulo são de Bruno Caetano. A entrevista segue abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador?

Meus pais sempre gostaram muito de música. Eles tinham um grupo de amigos que fazia saraus e, desde muito pequeno, eu participava dessas reuniões.

2.  Qual a sua formação?

Sou formado em Direito, embora tenha exercido pouco tempo. Estudei piano erudito, mas não cheguei a me formar. Hoje sou pianista e cantor e trabalho com repertório de música popular.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Eu comecei os estudos de música muito cedo. Estudei piano erudito e violão popular, mas inicialmente não imaginava me profissionalizar como músico. Cheguei a advogar por um período curto de tempo, mas logo percebi que não gostava da coisa e decidi estudar para prestar concurso público. Como precisava de uma renda para me manter, aceitei o convite de um amigo para tocar e cantar no bar dele. Então eu estudava durante o dia e tocava à noite. Até que cheguei à conclusão que a profissão que eu realmente desejava e tinha aptidão era a música. A partir daí abandonei o direito e me dediquei integralmente à arte.

4.  Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Comecei a carreira tocando em bares na cidade de Londrina em 1992. Mas a cidade nessa época era muito limitada artisticamente e percebi que, se quisesse continuar na profissão de músico, teria que ir para uma cidade maior e com mais campo de trabalho. Então, em 1995, me mudei para São Paulo, onde moro até hoje. 
    
5.  Quais artistas lhe influenciaram?

Tenho uma infinidade de influências. Dos artistas nacionais citaria Tom Jobim, Johnny Alf, Dick Farney, Ivan Lins, Edu Lobo, Chico Buarque e outros. Dos artistas internacionais, citaria Tony Bennett, Johnny Mathis, Nat King Cole, Barry Manilow, Frank Sinatra e outros.

6.  Quando passou a se considerar profissional?

Quando parei de estudar para concursos públicos e passei a me dedicar totalmente à carreira musical.

7.  Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Que era uma profissão muito difícil, sem estabilidade alguma e pouco valorizada. Por isso o receio de exercê-la.

8.  Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que é uma profissão muito difícil, sem estabilidade alguma e pouco valorizada... A diferença é que hoje não tenho mais receio de exercê-la, e sim, muito orgulho dela.

9.  Como é o seu dia de trabalho?

Hoje em dia tenho um trabalho fixo duas vezes por semana e nos outros dias faço eventos e festas.

10.  Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Foi muito beneficiado, principalmente depois que eu lancei o meu CD. Elas foram importantes não só na divulgação, mas também na comercialização dos discos. 

11.  É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Sou um artista privilegiado, pois sempre tive trabalhos fixos e sempre toquei em bons lugares. Mas essa não é a realidade da maioria dos músicos, infelizmente.

12.  Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Cada dia tem menos lugares com música ao vivo. Muitos lugares que contratavam músicos hoje têm só música mecânica, um DJ ou senão um aparelho de karaokê...  Eu acho que o futuro da minha profissão é trabalhar com eventos, pois sobreviver só tocando na noite está cada vez mais difícil.

13.  Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Gostaria que houvesse mais respeito com o músico. Que os donos de bares não considerassem a música ao vivo uma “despesa necessária”. Que os frequentadores dos bares não achem que o músico é uma jukebox onde você põe uma moeda, escolhe qualquer música e ele toca. Cada músico tem um estilo e, se você não atende a um pedido, não é por má vontade, mas sim porque a música não faz parte do seu repertório. Gostaria que houvesse respeito dos músicos para com os músicos. A classe é extremamente desunida e muitos não pensam duas vezes em passar a perna num colega. Já passei pela situação de um músico chegar no lugar que eu tocava e se oferecer para tocar no meu lugar por um cachê menor que o meu... Se a Ordem dos Músicos do Brasil realmente fizesse alguma coisa por nós músicos, além de cobrar a anuidade, talvez isso não acontecesse. E, por fim, mas não menos importante, é que hoje em dia o cara se diz músico só porque tem um teclado onde ele aperta um botão e o bicho toca sozinho! Ou senão ele leva um computador com os playbacks e acha que pode animar um bar ou um evento cantando como se fosse um karaokê...  Eu gostaria que as pessoas, donos de bares e contratantes em geral discernissem o músico que estudou, se preparou para a profissão e vive dela, daquele “curioso” que nunca estudou, que acha que a música pode ser um “bico” e que apertar botão de teclado ou computador é ser artista!!


Para conhecer mais do trabalho de Marcelo Manzano, visite sua página oficial:
Ouça a música “Tenderly”, que faz parte do repertório do disco “Falo por meu coração”:
Para ver mais fotos tiradas por Bruno Caetano do encontro com o artista, visite a página do Cultura Artfício no Flickr:


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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Entrevista com Letícia Novaes / Interview with Letícia Novaes






















Lembro-me do primeiro contato que tive com o Letuce, vendo-os no palco da Mostra Prata da Casa 2011, do Sesc Pompéia. Não sabia nada da banda de Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos antes de assistir ao seu show, exatamente como eu prefiro, e fui tomado pela força de sua performance logo na primeira música. Naquela época já tinham lançado um CD, “Plano de fuga pra cima dos outros e de mim” (2009), seguido no ano de 2012 por “Manja perene”. Por sorte dos ouvintes, ambos capturam aquela mesma energia da banda carioca nos palcos. Letícia Novaes é a primeira dos artistas entrevistados pelo Cultura Artfício e esta não poderia ser uma escolha mais apropriada, pois ela representa perfeitamente a geração atual de artistas, que, majoritariamente, sobrevive de forma independente: é multifacetada e seu maior compromisso é com a liberdade na criação de sua obra. A entrevista, como todas que virão, foi realizada por e-mail, de forma que o respondente faça literalmente parte da cultura que propomos e tenha tempo para refletir sobre as questões em pauta. Serão sempre as mesmas perguntas, independente da proveniência do entrevistado, pois seu ofício é um assunto comum a todos os que têm a arte como trabalho. Contudo, sempre que possível, nos reuniremos pessoalmente a eles, de forma que possamos partilhar com você momentos de suas rotinas de trabalho. No caso de Letícia Novaes, o encontro aconteceu antes de um show em uma casa noturna na capital paulista, em 30/11/2012. As fotos são de Bruno Caetano. A entrevista segue abaixo:

1.   Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Meu avô e meu tio avô tocando violão, estilo seresteiros. A casa toda parava e ficava admirando, e eu era criança, mas já entendia que aquele era um momento sagrado, não era qualquer coisa.

2.      Qual a sua formação?

Me formei em teatro, fiz curso de línguas, porque sou filha de professora de francês, então sempre curti, sempre gostei. Depois, já na música, fiz aula de voz, de canto, fono, musicalização, pra ajudar um pouco mais, mas confesso que sou completamente instintual na música, e claro que devo carregar algum gene musical do avô que tocava violão de seresta.

3.      Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Foi algo que aconteceu, acabei o colégio e fui fazer faculdade de letras, mas me decepcionei bastante com a formalidade e caretice do meio acadêmico. Minha mãe que sabia que eu era feliz no cursinho de teatro da adolescência, disse "minha filha, vai fazer teatro então", foi muito bonito isso ter vindo dela, parece que me liberou para ter uma escolha mais livre, eu ainda não entendia que teatro poderia ser uma opção. Depois que comecei o curso, senti que não haveria volta.

4.      Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Tive uma banda de rock com 22 anos, foi meu primeiro contato com esse universo de "ter banda". Depois tive banda de música eletrônica, tocávamos em boates, raves, outro universo, sabe? Mas tudo também colaborou pra minha mente musical. Com 25 anos conheci o Lucas, sabia que ele era músico mesmo. Nos apaixonamos e naturalmente fomos nos especulando musicalmente. Em 2008 lançamos nossa banda, Letuce, e fomos fazendo shows por aí, até que em 2009 lançamos nosso primeiro disco, e foi uma história bem bonita e o pouco, porém carinhoso, reconhecimento que temos, é muito bom, porque reflete nossa naturalidade e espontaneidade com a coisa.

5.      Quais artistas lhe influenciaram?

Na literatura: Susan Sontag, Susan Miller, Chico Bento, Sylvia Plath, Adélia Prado, Rosa Montero, Hilda Hilst. Na música: Maria Bethânia, PJ Harvey, Juana Molina, Janis Joplin. Resumi, obviamente, porque todos já devem ter me influenciado em algum nível. Só citei alguns.

6.      Quando passou a se considerar profissional?

Não sei se já me considero, viu? Sou extremamente profissional com as minhas obrigações, caso contratem um show, mas dentro do coração, ainda não sinto isso.

7.      Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Nenhuma, não fazia ideia, não visualizava glamour, porque nunca tive artista na família, não tinha ideia do que poderia ser, mas também não imaginava que fosse tão perrengoso como é.

8.      Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que é um trabalho como outro qualquer, só que envolve hedonismo e criatividade, mas também exige obrigações e também te causa dúvida e insegurança. Mas sim, é divertidíssimo, para mim, assim como advogar deve ser divertido para outros.

9.      Como é o seu dia de trabalho?

O mais variado possível. Há dias que apenas existo e sou ou não inspirada pelo que me cerca em minha casa ou na rua, ou há dias em que acordo 5 da manhã, gravo alguma cena de um teste que fiz e passei, de tarde passo o som para um show, faço stand up antes em algum teatro e depois corro para o show. Dias calmos e dias intensos. Sempre assim.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Meu trabalho foi e é completamente beneficiado com a internet e as redes sociais. Não sou do tipo que reclama da modernidade, posso até ter nostalgia com algumas coisas, mas não com isso. Adoro essa possibilidade livre, direta, maluca de postar uma foto ou uma música e alguém no Piauí poder ouvir em seguida.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

É possível, mas no meu caso preciso me desdobrar, me multifacetar, o que pode ser divertido, mas uma hora é bem cansativo também e te falta tempo para dar foco para apenas uma atividade. Se eu fosse apenas cantora, hoje em dia, não conseguiria sobreviver, mas porque faço locução vez ou outra, atuo vez ou outra, faço stand up vez ou outra, sou redatora vez ou outra, aí sim consigo.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Não faço a menor ideia... Mas espero que a arte seja mais respeitada e estimulada no Brasil, desde criança. É muito importante isso, tem que vir desde pequeno, se não, quando são adultos, estranham o que é diferente, alternativo. Com estímulo desde cedo, esse universo já se torna mais normal.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Acho que já falo bastante (risos). Gosto de responder o que perguntam.

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domingo, 2 de dezembro de 2012

Carta de intenções / Letter of intent


Há uma lacuna no que se refere à informação sobre o trabalho dos que têm a arte como ofício. As biografias são valiosas, porém contemplam um número restrito de profissionais, cujos trabalhos já possuem reconhecimento. As entrevistas são importantes, mas podem facilmente incitar um discurso vazio que reforça o culto às celebridades. Quando as atividades artísticas estão envoltas à aura romantizada da inspiração divina, parece estranho tratar um artista por trabalhador. Quando envoltas à aura romantizada do glamour que a fama supõe, parece estranho tratar um trabalhador por artista. Mas eles os são. Todos artistas. Todos trabalhadores da arte. O Cultura Artfício é um repositório de memória imaterial sobre o trabalho com a arte, cujo objetivo é informar sobre as formas de realizá-lo, através de bate-papos com profissionais de proveniências diversas: artes plásticas, artes visuais, artes cênicas, música, letras e outras possibilidades. Nossa maior ambição é contribuir à formação tanto do público quanto dos artistas através do compartilhamento dessas experiências e perspectivas. Uma semente que todos estão convidados a cultivar: Cultura Artfício. 



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There is an information gap about the work of those who have art as a craft. Biographies are valuable but only contemplate a small number of professionals whose works are already recognized. Interviews are important but can easily incite an empty speech that reinforce the cult to celebrities. When the artistic activities are surrounded by the romanticized divine inspiration aura it seems strange to treat an artist by worker. When surrounded by the romanticized glamour aura that fame presumes it seems strange to treat a worker by artist.  But they are. All artists. All workers of art. Cultura Artfício, which can be translated as Culture Artfice, is an immaterial memory repository about the work with art. Its objective is informing people about ways of doing it through talks with professionals of diverse provenances: plastic arts, visual arts, performing arts, music, letters, and other possibilities. Our greatest ambition is contributing to the public as well as the artists’ formation through the sharing of these experiences and perspectives. A seed that all are invited to cultivate: Cultura Artfício.



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