Às vezes precisamos que alguém sinalize o que somos para
darmos voz a um talento. Foi assim com Paulo Neto. Embora tenha começado sua
carreira artística ainda adolescente como desenhista, descobriu-se cantor
através de ouvidos alheios, que lhe apontaram sua habilidade vocal. Cantou em
bares, casas de shows e comandou trios elétricos, até que findou participando
de dois reality shows,
"Fama" e "Ídolos", antes de se mudar de Condado, interior
de Pernambuco, para São Paulo. Foi onde, depois de um percurso que incluiu a sua participação em importantes projetos culturais e a
sua premiação no “22º Prêmio da
Música Brasileira” (melhor interprete na categoria “Vale Cantar Noel”),
concebeu o que considera o seu primeiro disco, junto ao produtor Thiago Marques
Luiz, intitulado "Dois animais na selva suja da rua", em 2011 – dois
anos antes fez o CD “Samba eu Canto”,
que lhe serviu como o registro do percurso de aprofundamento que havia feito
recentemente pelo ritmo, assim como de cartão de visitas a contratantes e
produtores. Depois de uma crise carregada de incertezas sobre o que
poderia ter entregado em “Dois animais...”, trabalho que recebeu boas críticas, voltou a querer trabalhá-lo em shows para finalizar seu ciclo em
grande estilo, com o lançamento de um compacto em vinil com duas músicas do
álbum e as duas faixas do repertório complementar ao disco, lançadas em 2012
como single. Neste ínterim, junto à cantora e compositora Isabela Moraes, e ao
multi-instrumentista Joan Barros, começou um projeto que remonta ao que engendrou
o desejo deles pelo caminho da música, chamado “Bon Vivant”. Enquanto todos têm pressa para seguir adiante, o show
propõe uma retomada do momento anterior à carreira de fato, com o intuito de
celebrar o que os formou como ouvintes e, certamente, artistas. Só então Paulo
Neto pretende seguir adiante, sem jamais se perder de si próprio. O show “Bon Vivant” terá sua estreia neste sábado,
na Casa Musicoteca. As fotos do centro do mural e das capas do disco e single
"Dois animais na selva suja da rua", são de Naíra Messa; as do
canto superior esquerdo e direito são de Lauro Lisboa.
1. Quais os primeiros contatos que
você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Desde muito
pequeno o meu brinquedo era o meu caderno de desenho. A minha mãe era fã e
ouvia os artistas populares da época, como Fagner, Joanna, Fábio Jr., Roberto
Carlos... Já a minha vizinha ouvia o pop do pop, artistas considerados bregas,
como Odair José, Amado Batista, Márcio Greyck, Reginaldo Rossi... Esses foram
meus primeiros contatos com a música. Meu avô tocava sanfona (muito Luiz
Gonzaga) para os netos ouvirem aos domingos. Enquanto ele tocava, eu desenhava.
2. Qual a sua formação?
Estudei
canto popular na antiga ULM, hoje EMESP Tom Jobim, aqui em São Paulo. Mas o que
me formou de verdade foi tocar na noite, em barzinho. O palco que é uma grande
escola, a maior de todas.
3. Quando e como lhe ocorreu ser
artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que
aconteceu?
Eu já tinha
encanto pelo desenho e, depois de subir ao palco, acho que ficou mais claro pra
mim o meu oficio. Como eu não tinha apoio familiar, estava prestes a fazer
Educação Artística ou Desenho Industrial, quando surgiu a oportunidade de participar
do programa “Ídolos”. Foi aí que decidi mudar definitivamente para São Paulo e
viver de música.
4. Você pode nos contar um pouco da
sua carreira?
Minha estréia
foi em 2002, em um show para aproximadamente cinco mil pessoas na minha cidade,
depois de indicar um amigo que não conseguiu cantar por vergonha. Eu, pra
desinibi-lo, acabei cantando junto e findei sendo chamado pra cantar. Este show
me rendeu um bom cachê e mexeu comigo. (risos)
Daí em diante não parei mais. Em 2006, participei do reality show “Ídolos”. O programa serviu para me trazer pra São
Paulo, foi quando comecei a estudar canto na Universidade Livre de Música, hoje
EMESP - Tom Jobim, o que me abriu muitas possibilidades, como cantar com a
Orquestra Tom Jobim na Sala São Paulo. Em 2011, fui premiado como melhor
interprete, na categoria “Vale Cantar Noel”, do Prêmio da Música Brasileira. A
partir daí tive a oportunidade de gravar o meu primeiro disco, “Dois animais na
selva suja da rua”, com produção de Thiago Marques Luiz e direção artística do (também DJ) Zé Pedro, lançado em 2012.
Depois dos shows para promover o CD, lançamos um single com as canções “Sintonia” (Moraes Moreira/Zeca Barreto/Fred
Góes) e “São João do Carneirinho (Frevo)” (Isabela Moraes), que complementaram
o “Dois animais...”. Agora venho pensando no novo disco, formando o repertório,
já decidindo o seu conceito estético, ao mesmo tempo em que faço shows e participo de projetos
paralelos como o “Bon vivant”, com Isabela Moraes e Joan Barros, que fala da nossa trajetória.
5. Quais artistas lhe influenciaram?
Fui muito
influenciado pela literatura de cordel. Meu avô é cordelista por hobby, e meu vizinho, José Costa Leite,
é um dos maiores autores do gênero no Brasil. Da música, tive muita influência de
vozes masculinas. Eu era fissurado pelo Emílio Santiago e pelo Caetano Veloso.
6. Quando passou a se considerar
profissional?
No primeiro
show.
7. Qual era a ideia que você tinha da
profissão antes de exercê-la?
Sinceramente,
eu não tinha a mínima ideia. Quem tem uma visão externa geralmente acha que é
muito fácil pelos momentos mágicos que a arte pode proporcionar. Eu não pensei
muito sobre isso. Esse é o meu jeito.
8. Qual é a ideia que você tem da
profissão hoje que a exerce?
Ser artista
é uma delícia, é tão comum para mim que eu não consigo olhar com
distanciamento. Por outro lado, é uma profissão difícil, uma caixinha de
surpresas, além de ser cheia de cobranças.
9. Como é o seu dia de trabalho?
Depende
muito... Se é dia de show, tenho meus rituais... Tomo meus cuidados com a voz
fazendo uma serie de exercícios para aquecê-la, e medito para estar inteiro no
palco. Faço aulas de canto. Tem dias em que ensaio. E tem os nos quais eu só
penso sobre a criação de alguma canção, ou escrevo algum texto. Assim como tem vezes
em que já acordo desenhando. (risos)
10. Seu trabalho foi beneficiado com a
internet e as redes sociais? Como?
Elas ajudam
e prejudicam. Ajudam, pois muitas pessoas de diferentes lugares podem ter
acesso ao meu trabalho através da indicação ou compartilhamento de amigos, por
exemplo. Prejudicam, pois as promoções pagas que “sugerem” certos conteúdos
muitas vezes desvirtuam a atenção do público. Contudo, a Internet permitiu que
mais artistas passassem a existir além da televisão e da grande mídia.
11. É possível pagar as contas tendo a
arte como ofício? Como você faz?
É bem
difícil, mas é possível. Como todo profissional, você precisa se destacar para
isso te gerar outras possibilidades. É preciso ser agradável, comunicativo,
fazer um bom show que agrade as pessoas. Saber vender o seu produto e
entrega-lo da melhor forma possível, ser um bom profissional.
12. Como você acredita que será o
futuro da sua profissão?
Eu não consigo
imaginar, não penso muito sobre... Quero continuar me mantendo e galgando os
degraus internos como ser humano e artista. Espero que este excesso de
informações de hoje passe por um funil e que permaneça somente o que for bom.
13. Fale sobre o que você gostaria do
seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Por hoje
não. (risos)
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