Carlos Careqa é um artista que dosa habilmente a
capacidade de divertir e enternecer com o seu trabalho. As duas primeiras
músicas de seu disco de estreia “Os Homens são todos iguais” (1993),
“Não dê pipoca ao turista” e
“Acho”,
são bons exemplos desta ambivalência que permeia a sua obra, independente por
excelência e contingência. Simplesmente porque o interesse comercial das
grandes gravadoras concentra-se majoritariamente sobre os produtos que geram maior
lucro em um menor espaço de tempo, com a exceção de poucos (e cada vez menos)
artistas que têm a possibilidade de criar um catálogo robusto com o suporte
financeiro delas. Portanto, independência ou morte. E
isso desde 1977, quando Antonio Adolfo lançou o primeiro disco independente
brasileiro, “Feito em casa”. Antes disso era só a morte. A política de
incentivos fiscais da Lei Rouanet – criada em 1991 com o objetivo de promover, proteger e valorizar as expressões
culturais nacionais –, que possibilita às empresas e aos cidadãos aplicarem
uma parte do imposto de renda devido em ações culturais, acabou se tornando uma
vitrine para os apoiadores. Eles se valem da propaganda gratuita gerada pelos
projetos, desta forma, escolhendo os de artistas com maior destaque na mídia,
muitos deles os antigos e mesmo os atuais eleitos pelos grandes conglomerados, que já não investem como antigamente.
Ou seja, mais do que nunca a independência total é a regra. E o gozo da autonomia
e da liberdade criativa tem seu custo. Segundo Careqa aponta na entrevista
que segue, parece ficar mais difícil bancá-lo a cada novo trabalho, ao contrário do que o entusiasmo com as possibilidades trazidas por novas tecnologias como a Internet nos leva a entender. Isto porque a facilidade de produção de conteúdo gerou uma grande quantidade de trabalhos que concorrem pela atenção do público, o que faz do artista um entre milhões. Realmente a equação para o sucesso nos tempos de YouTube e das redes sociais é complexa, muitas vezes se dando a largos passos da qualidade. Por outro lado, sem esta última parece impossível a fidelização de um público que deseja mais que se divertir ao som de revivals. Ao menos é o que indica “Made in China” (2013), o disco mais recente de Carlos Careqa, que vem sendo bem recebido pela crítica. Música para ouvir e revisitar. Isso sem falar que ele ainda compõe, toca, atua e produz... Mas disso vocês saberão melhor na entrevista a seguir. Ambos os retratos do artista foram feitos por Edson Kumasaka.
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Acho
que foi assistindo cinema. Tinha um de bairro onde eu morava em Curitiba, na
Vila Guairá, Cine São Cristóvão. O primeiro filme eu me lembro muito bem, “Eram
os deuses astronautas?”. Mexeu muito comigo aquele filme. Comecei a pensar na
vida mais seriamente e eu tinha uns oito anos, talvez. Depois assisti a muitos
filmes do Mazzaropi, que também me dava muita alegria. Nas missas cantávamos
bastante e tinha também as encenações da Paixão de Cristo, nas quais eu
geralmente era o Barrabás (risos).
2.
Qual a sua formação?
Autodidata
total. Aprendi um pouco de música no Seminário Salesiano em Ponta Grossa.
Depois fiz algumas aulas particulares. Muita música de bar. E aqui em São Paulo
fiz um curso de harmonia e percepção com o Ricardo Breim.
3.
Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma
intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Nunca
achei que fosse ser um dia artista. Demorei muito para me assumir como tal. Fiz
dois anos de direito em Curitiba. Mas quando tinha 22 anos resolvi largar tudo
e ir para Nova York sem saber falar inglês direito e também sem ser um
instrumentista, apenas um cantor de canções brasileiras. Uma loucura! Acabei
tocando muito lá em bares restaurantes. Voltei para Curitiba logo depois e me
assumi como músico. Mesmo assim isso só aconteceu totalmente quando tinha 29
anos e me mudei para São Paulo. Aí não tinha mais volta.
4.
Você pode nos contar um pouco da sua carreira?
Aos 15 anos ingressei no seminário Salesiano de Ponta Grossa, com o
intuito de me tornar Sacerdote da Igreja Católica,
onde aprendi música e teatro, inclusive tendo participado de uma banda,
Os Brasas, formada por alunos. Aos 18 anos, em 1979, ingressei no Grupo de Teatro dirigido por Laerte Ortega, no qual contribuí com a trilha do
espetáculo “A rua de Pirulito”, juntamente com ele e o Lino Procópio. Depois
passei rapidamente pelo grupo Sal da Terra, no qual fiz uma dupla com Fernando
Vieira e comecei a compor, misturando diversos estilos. Fizemos muitos shows em
Curitiba durante 1982, 1983 e 1984, quando decidi largar a faculdade de
Direito e partir para Nova York,
dando início à minha carreira solo. Já com o nome modificado
para Carlos Careqa, com a letra q no lugar de c, voltei ao Brasil depois de quatro meses para
continuar o trabalho com música e teatro. Tentei por uma semana morar no Rio de
Janeiro, mas voltei para Curitiba,
onde fiz mais trilhas para peças de teatro e shows musicais. Em 1986 voltei
para Nova York, onde passei mais uma temporada tocando em bares e restaurantes.
Voltando para Curitiba, retomei os trabalhos e comecei a participar como ator em
comerciais de televisão e em curtas dirigidos pelos cineastas locais. Em 1990
recebi uma bolsa do Instituto Goethe de Curitiba para estudar Alemão em Berlim,
onde fiquei por oito meses. Na volta decidi mudar para São Paulo, onde
permaneço até hoje. Em 1993 lancei meu primeiro disco, o LP “os Homens são
todos iguais”, com participações de Arrigo Barnabé, Tetê Espindola, Cida
Moreira, Itamar Assumpção, e da banda Tangos e Tragédias. A canção “Acho”,
deste disco, foi escolhida por David Byrne para integrar a coletânea “Brazil
Tropical 2” ,
lançada em 1999, ano seguinte ao que lancei meu segundo trabalho, o CD “Música
para final de século”. Em 2004 veio “Não sou filho de ninguém”. Em 2006 o
próximo, “Pêlo publico”. Em 2008, “À Espera de Tom”, com canções de Tom Waits
em português. Em 2009 saiu “Tudo que respira quer comer”, em comemoração aos
meus 25 anos de carreira, somente com músicas inéditas minhas, que precedeu “Alma
boa de lugar nenhum”, de 2011. Agora em 2013 lancei meu disco mais recente de
canções autorais, “Made in China”.
5.
Quais artistas lhe influenciaram?
Padre
Zezinho, Chico Buarque, Arrigo Barnabé, Gilberto Gil, Caetano Veloso,
Roberto Carlos, Tom Waits.
6.
Quando passou a se considerar profissional?
Quando
passei a morar em São Paulo, ou melhor, quando lancei o primeiro disco, em
1993.
7. Qual
era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Que
tudo seria mais fácil depois do primeiro disco, mas foi ao contrário. A cada
disco que lanço fica mais difícil, especialmente por eu ser independente. A
carreira de músico é realmente difícil, mas, por outro lado, acho que todas são.
8. Qual
é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Sinto
que tem muita gente se aventurando como músico sem antes experimentar coisas
como tocar em bar, estudar ou aprimorar o que quer dizer com a música que faz.
A coisa está muito focada somente no sucesso midiático.
9. Como
é o seu dia de trabalho?
Acordo
tarde. Produzo a minha carreira sozinho. Quando tenho que despachar discos etc.,
vou aos Correios. Faço contatos para vender meu trabalho. À noite, quando não
saio para assistir espetáculos, geralmente faço música.
10.
Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Sim
e não. Eu consigo chegar mais perto de muita gente, porém estou concorrendo com
todos que fazem a mesma coisa. A divulgação é mais rápida, porém estou no meio
de milhões.
11. É
possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Às
vezes sim. Às vezes não. Não trabalho somente como músico, também sou ator e
produtor. Quando vejo que a coisa vai apertar, proponho projetos com outros
artistas para equilibrar o orçamento.
12.
Como você acredita que será o futuro da sua profissão?
Não
sei. Será sempre mais difícil para os músicos. Todos ganham com música no
mundo, mas o músico ganha muito pouco. É uma profissão muito desvalorizada. Porém
sempre há uma saída, mas eu não sei te dizer agora.
13.
Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Eu
gostaria de poder apresentar o meu trabalho em todas as universidades do Brasil.
Gostaria que o MinC fizesse um projeto para que isso acontecesse de fato: uma
estrutura pequena na qual artistas independentes pudessem mostrar seus
trabalhos nas Universidades Federais, Estaduais e Municipais. Não custa sonhar.
Para conhecer mais do trabalho de Carlos
Careqa, visite sua página oficial:
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