sexta-feira, 26 de abril de 2013

Entrevista com Carlos Careqa


Carlos Careqa é um artista que dosa habilmente a capacidade de divertir e enternecer com o seu trabalho. As duas primeiras músicas de seu disco de estreia “Os Homens são todos iguais” (1993), “Não dê pipoca ao turista” e “Acho, são bons exemplos desta ambivalência que permeia a sua obra, independente por excelência e contingência. Simplesmente porque o interesse comercial das grandes gravadoras concentra-se majoritariamente sobre os produtos que geram maior lucro em um menor espaço de tempo, com a exceção de poucos (e cada vez menos) artistas que têm a possibilidade de criar um catálogo robusto com o suporte financeiro delas. Portanto, independência ou morte. E isso desde 1977, quando Antonio Adolfo lançou o primeiro disco independente brasileiro, “Feito em casa”. Antes disso era só a morte. A política de incentivos fiscais da Lei Rouanet – criada em 1991 com o objetivo de promover, proteger e valorizar as expressões culturais nacionais , que possibilita às empresas e aos cidadãos aplicarem uma parte do imposto de renda devido em ações culturais, acabou se tornando uma vitrine para os apoiadores. Eles se valem da propaganda gratuita gerada pelos projetos, desta forma, escolhendo os de artistas com maior destaque na mídia, muitos deles os antigos e mesmo os atuais eleitos pelos grandes conglomerados, que já não investem como antigamente. Ou seja, mais do que nunca a independência total é a regra. E o gozo da autonomia e da liberdade criativa tem seu custo. Segundo Careqa aponta na entrevista que segue, parece ficar mais difícil bancá-lo a cada novo trabalho, ao contrário do que o entusiasmo com as possibilidades trazidas por novas tecnologias como a Internet nos leva a entender. Isto porque a  facilidade de produção de conteúdo gerou uma grande quantidade de trabalhos que concorrem pela atenção do público, o que faz do artista um entre milhões. Realmente a equação para o sucesso nos tempos de YouTube e das redes sociais é complexa, muitas vezes se dando a largos passos da qualidade. Por outro lado, sem esta última parece impossível a fidelização de um público que deseja mais que se divertir ao som de revivals. Ao menos é o que indica “Made in China” (2013), o disco mais recente de Carlos Careqa, que vem sendo bem recebido pela crítica. Música para ouvir e revisitar. Isso sem falar que ele ainda compõe, toca, atua e produz... Mas disso vocês saberão melhor na entrevista a seguir. Ambos os retratos do artista foram feitos por  Edson Kumasaka.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Acho que foi assistindo cinema. Tinha um de bairro onde eu morava em Curitiba, na Vila Guairá, Cine São Cristóvão. O primeiro filme eu me lembro muito bem, “Eram os deuses astronautas?”. Mexeu muito comigo aquele filme. Comecei a pensar na vida mais seriamente e eu tinha uns oito anos, talvez. Depois assisti a muitos filmes do Mazzaropi, que também me dava muita alegria. Nas missas cantávamos bastante e tinha também as encenações da Paixão de Cristo, nas quais eu geralmente era o Barrabás (risos).

2. Qual a sua formação?

Autodidata total. Aprendi um pouco de música no Seminário Salesiano em Ponta Grossa. Depois fiz algumas aulas particulares. Muita música de bar. E aqui em São Paulo fiz um curso de harmonia e percepção com  o Ricardo Breim.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Nunca achei que fosse ser um dia artista. Demorei muito para me assumir como tal. Fiz dois anos de direito em Curitiba. Mas quando tinha 22 anos resolvi largar tudo e ir para Nova York sem saber falar inglês direito e também sem ser um instrumentista, apenas um cantor de canções brasileiras. Uma loucura! Acabei tocando muito lá em bares restaurantes. Voltei para Curitiba logo depois e me assumi como músico. Mesmo assim isso só aconteceu totalmente quando tinha 29 anos e me mudei para São Paulo. Aí não tinha mais volta.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Aos 15 anos ingressei no seminário Salesiano de Ponta Grossa, com o intuito de me tornar Sacerdote da Igreja Católica, onde aprendi música e teatro, inclusive tendo participado de uma banda, Os Brasas, formada por alunos. Aos 18 anos, em 1979, ingressei no Grupo de Teatro dirigido por Laerte Ortega, no qual contribuí com a trilha do espetáculo “A rua de Pirulito”, juntamente com ele e o Lino Procópio. Depois passei rapidamente pelo grupo Sal da Terra, no qual fiz uma dupla com Fernando Vieira e comecei a compor, misturando diversos estilos. Fizemos muitos shows em Curitiba durante 19821983 e 1984, quando decidi largar a faculdade de Direito e partir para Nova York, dando início à minha carreira solo. Já com o nome modificado para Carlos Careqa, com a letra q no lugar de c, voltei ao Brasil depois de quatro meses para continuar o trabalho com música e teatro. Tentei por uma semana morar no Rio de Janeiro, mas voltei para Curitiba, onde fiz mais trilhas para peças de teatro e shows musicais. Em 1986 voltei para Nova York, onde passei mais uma temporada tocando em bares e restaurantes. Voltando para Curitiba, retomei os trabalhos e comecei a participar como ator em comerciais de televisão e em curtas dirigidos pelos cineastas locais. Em 1990 recebi uma bolsa do Instituto Goethe de Curitiba para estudar Alemão em Berlim, onde fiquei por oito meses. Na volta decidi mudar para São Paulo, onde permaneço até hoje. Em 1993 lancei meu primeiro disco, o LP “os Homens são todos iguais”, com participações de Arrigo Barnabé, Tetê Espindola, Cida Moreira, Itamar Assumpção, e da banda Tangos e Tragédias. A canção “Acho”, deste disco, foi escolhida por David Byrne para integrar a coletânea “Brazil Tropical 2”, lançada em 1999, ano seguinte ao que lancei meu segundo trabalho, o CD “Música para final de século”. Em 2004 veio “Não sou filho de ninguém”. Em 2006 o próximo, “Pêlo publico”. Em 2008, “À Espera de Tom”, com canções de Tom Waits em português. Em 2009 saiu “Tudo que respira quer comer”, em comemoração aos meus 25 anos de carreira, somente com músicas inéditas minhas, que precedeu “Alma boa de lugar nenhum”, de 2011. Agora em 2013 lancei meu disco mais recente de canções autorais, “Made in China”.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Padre Zezinho, Chico Buarque, Arrigo Barnabé, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Tom Waits.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Quando passei a morar em São Paulo, ou melhor, quando lancei o primeiro disco, em 1993.

7.  Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Que tudo seria mais fácil depois do primeiro disco, mas foi ao contrário. A cada disco que lanço fica mais difícil, especialmente por eu ser independente. A carreira de músico é realmente difícil, mas, por outro lado, acho que todas são.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Sinto que tem muita gente se aventurando como músico sem antes experimentar coisas como tocar em bar, estudar ou aprimorar o que quer dizer com a música que faz. A coisa está muito focada somente no sucesso midiático.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Acordo tarde. Produzo a minha carreira sozinho. Quando tenho que despachar discos etc., vou aos Correios. Faço contatos para vender meu trabalho. À noite, quando não saio para assistir espetáculos, geralmente faço música.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim e não. Eu consigo chegar mais perto de muita gente, porém estou concorrendo com todos que fazem a mesma coisa. A divulgação é mais rápida, porém estou no meio de milhões.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Às vezes sim. Às vezes não. Não trabalho somente como músico, também sou ator e produtor. Quando vejo que a coisa vai apertar, proponho projetos com outros artistas para equilibrar o orçamento.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Não sei. Será sempre mais difícil para os músicos. Todos ganham com música no mundo, mas o músico ganha muito pouco. É uma profissão muito desvalorizada. Porém sempre há uma saída, mas eu não sei te dizer agora.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Eu gostaria de poder apresentar o meu trabalho em todas as universidades do Brasil. Gostaria que o MinC fizesse um projeto para que isso acontecesse de fato: uma estrutura pequena na qual artistas independentes pudessem mostrar seus trabalhos nas Universidades Federais, Estaduais e Municipais. Não custa sonhar.

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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Entrevista com Daniel Barra

Antes de qualquer coisa, é fundamental dizer que Daniel Barra é um agitador cultural que, dentre diversas iniciativas, reuniu em 2010 um grupo de jovens e então desconhecidos talentos como Tulipa Ruiz, Barbara Eugênia, Roberta Estrela D'Alva e Luísa Maita para a gravação de um disco emblemático chamado “Geração SP”. Porém, seu trabalho é anterior e contempla diferentes frentes. De cantor a DJ, passando por trabalhos como artista performático e visual, Daniel se redescobre e reinventa maneiras de se expressar a cada submersão nas muitas possibilidades que a Arte apresenta. Portanto, um artista inquieto e em constante trânsito pelas diversas possibilidades de criação artística. Sua entrevista ao Cultura Artfício traz à tona uma questão relevante quanto à sua forma de trabalhar com a arte, que é através da liberação da necessidade de ganhar dinheiro com ela. Ou seja, a concepção em sua forma pura, apenas motivada pela essencialidade de exprimir algo. Escolha que inevitavelmente implica na realização de outra atividade que lhe provenha o sustento, mas que ainda assim pode ser, de alguma forma, relacionada ao seu ofício, através da produção de espetáculos musicais, teatrais e de dança – esta, inclusive, tendo lhe aberto novos horizontes para se manifestar. No entanto, Daniel Barra se encontra em um momento de transição entre a produção e o ensino em aulas e oficinas, trabalho que lhe parece mais apropriado para fazer conexões com os outros projetos que realiza. Sua inquietação é inspiradora! Os créditos das imagens utilizadas no mural seguem após a entrevista abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Lembro de momentos quando passei a ter certos interesses por conta própria. Por exemplo, quando passei a ficar curioso e intrigado com as capas e discos malucos de rock progressivo dos anos 70 que meu pai tinha. Uriah Heep e Wishbone Ash eram meus favoritos.

2. Qual a sua formação?

Eu comecei a fazer capoeira de fraldas e hoje sou professor. Inclusive Barra não é meu sobrenome como muitos pensam, vem de Barra da Saia, apelido que ganhei em 1993, quando cantei pela primeira vez em uma roda de capoeira. Sou também formado técnico em informática industrial pela Escola Técnica Federal de São Paulo. Estudei jornalismo na Universidade Católica de Santos e filosofia na Escola Nômade de Filosofia.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Lembro-me quando tinha 6 anos, na pré escola, quando preparei umas coisas em casa para levar para a escola escondido da minha mãe. Antes da professora entrar na sala eu vesti um kit com óculos, nariz e bigode de plástico, peguei um lenço do meu pai e fingi que espirrava. A professora perguntou "quem é você?" quando entrou. Eu respondi: "Sou o Dr. Atchin!". Todos riram, foi um sucesso. Um ano depois disso eu queria montar uma banda, cheguei até a separar algumas panelas para a bateria e juntei alguns integrantes, mas nunca deu certo. Eu era bom em paródias, cheguei a ganhar uma competição na escola nessa época, colocando letras especiais em músicas conhecidas. Mas eu considero que só me tornei gente na época do colegial, a partir de 1996, foi ali que tudo começou pra mim, oficialmente, digamos. Ali iniciei minhas primeiras bandas de verdade, cantava e escrevia letras, ouvia música o dia inteiro, fui punk, metaleiro, tive banda de Blues, eu queria tudo. E ali tive a certeza de que o que queria mesmo era ser artista. 

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Meu caminho de errância e polivalência no mundo das artes começou com bandinhas de rock na adolescência, passando um tempo com um belo de um moicano na cabeça espetado com sabão, entre outras radicalidades de percurso. Em 1999 passei à vida de DJ, raves e festivais onde também colaborava como jornalista e agitador, escrevendo colunas e lutando por ações alternativas no cenário. Paralelamente, a partir de 2002 comecei a desenvolver algumas pesquisas musicais e performáticas mais experimentais, época em que andava com o pessoal do grupo Pedra Branca, então recém formado. Continuei me apresentando como DJ junto a outros trabalhos até 2010, quando digo que me aposentei deste ofício. Por meados de 2004/2005 entrei em crise e voltei ao mundo da canção, desgostoso das festas e das poucas possibilidades. Fiquei esse tempo à deriva até que fui trabalhar com a cantora Mariana Aydar em 2007 e tentei articular alguma coisa na cena da então música brasileira contemporânea, quando acabei criando o projeto Geração SP, que gravou um disco pelo Prêmio Estímulo de Música da Secretaria de Estado da Cultura, indicando nomes então desconhecidos como Tulipa Ruiz, Barbara Eugênia, Claudia Dorei e Luiza Maita entre outros. Cansei rápido desse meio e passei a trabalhar apenas com produção cultural, focado em espetáculos de dança, o que maravilhosamente me abriu novos horizontes. Hoje em dia meu trabalho artístico além da música passa pelo campo da performance, dança contemporânea e artes visuais.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Comecei a listar minhas influências, mas, na verdade, acho que se tratavam mais de referências. Pergunto-me se minhas principais influências não são aquelas mais próximas, ou as mais duradouras. Na dança, por exemplo, os coreógrafos Luis Garay e Marcelo Evelin, com quem trabalhei, certamente são minha principal influência. Acho que se alguém ou algum trabalho nos influencia é porque também tem algo nosso ali. Já na música eu sempre tive a Bjork como referência máxima por ser o ícone maior a ter uma pesquisa com as músicas pop e experimental, por vir de um início de som pesado e engajado, e por ser uma artista que canta, extrapolando a noção estéril de cantora. Porém, desconfio que talvez outros artistas os quais nem admiro tanto assim tenham me influenciado mais, por terem outras proximidades. Nesse momento me sinto especialmente influenciado pelo trabalho do Paulo Nazareth. Somos próximos, tem algo meu ali? Estou tentando descobrir...

6. Quando passou a se considerar profissional?

Minha vida mudou definitivamente em setembro de 2001. Eu tinha 20 anos quando estive no festival Trancendence em Alto Paraíso, Goiás, os bons tempos das raves de Trance. Ali eu tive contato pela primeira vez com algo que eu buscava, só que não sabia bem o que era. Encontrei outros modos de vida, maneiras de se relacionar, conhecimentos e estética. No ano seguinte eu abandonaria Santos para me jogar nesse mundo. Acabei vivendo daquilo, festas e festivais, atuando como DJ, decorador, músico, barman, produtor e no que mais pudesse. Ali as coisas de fato começaram.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Eu não tinha essa noção, só sabia que queria entrar naquele novo universo. Lembro que naquele começo eu dizia o tempo todo que queria viver em um chillout de forma itinerante e foi o que acabou acontecendo – foi a sensação de juntar vida e arte em uma coisa só, como viver em turnê sem ter exatamente uma banda. Durante um tempo nessa vida eu acabei empregando outros DJs, músicos, clowns, atores e artistas visuais. Foi a época em que ganhei menos dinheiro (e olha que eu ganho muito pouco), mas estava realizando um sonho e creio que foi meu primeiro momento como "profissional", por mais amador que tenha sido. 

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Minha mãe às vezes me pergunta quando é que eu vou arrumar um emprego normal. E eu sempre respondo que acho que nunca. Conforme meus interesses vão mudando minha realidade muda junto, eu não aguento muito mais de 4 anos na mesma cena. Eu vou aos poucos me jogando de cabeça de uma coisa a outra. Contexto, cena, linguagem. Minha relação com as ideias de "carreira" e "profissão" se diluem em uma trajetória camaleônica, muito mais curiosa pela experiência do que preocupada com salários e resultados. E desde sempre procuro por estratégias para liberar a arte da necessidade de ganhar dinheiro. Meio hippie demais ou ideológico, talvez. Quanto a isso sempre estou em crise. Por exemplo, se eu resolvo criar um projeto por conta da demanda de um edital, já é um motivo para crise e reflexões. Essa é uma questão que ainda não resolvi... 

9. Como é o seu dia de trabalho?

Cada momento e cada trabalho pedem procedimentos e posturas diferentes. Ultimamente tenho passado mais tempo no computador do que qualquer outra coisa. Tenho também pesquisado sobre câmeras de vídeo e de fotografia, tentando me apropriar um pouco mais dessas linguagens. Estudar pra mim é fundamental, estou sempre com algum texto, áudio ou filósofo em processo de estudo.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Em 1998 o mundo mudava para alguns de nós moleques roqueiros de Santos que gravávamos fitas demo de nossas bandas. A Internet chegava em casa e com ela a transformação. Tivemos então acesso à música eletrônica, ouvíamos menos metal e mais Ltj Bukem. Ela, de fato, mudou muita coisa, não só alterou a quantidade de tipos de informação que nos beneficiavam, mas trouxe também a possibilidade de agregar e colocar em contato pessoas desconhecidas e distantes, articulando novos agenciamentos. Isso dura até hoje, e, além disso, me possibilita divulgar meu trabalho, que atinge um numero intangível de pessoas – o que considero fundamental como estratégia de autonomia.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

No meu caso não. Como disse antes, sempre foi do meu feitio liberar a arte da necessidade de ganhar dinheiro. Comecei a trabalhar desde cedo e sempre tive gosto em trabalhar, então meu grande dilema da vida foi saber que talvez nunca fosse ganhar dinheiro suficiente com minha arte e portanto teria que descobrir que outro tipo de trabalho me faria sentir pleno, tranquilo de estar ali para que nas horas vagas eu labutasse em meus projetos artísticos. Acho que o tipo de trabalho que mais se aproximou dessa tática foi a produção artística, nos anos em que trabalhei com shows e, principalmente, com espetáculos de dança e teatro. De alguma maneira eu estava trabalhando com arte, em um ambiente de arte, respirando aquilo, aquele ar parado das coxias com um trabalho dinâmico e polivalente, aprendendo segredos das artes cênicas direto da boca dos diretores. Foi uma grande experiência que ainda sinto reverberar. Pagou basicamente as contas e acabou me botando no mundo da dança contemporânea.  

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Meu futuro como profissional já está acontecendo. Encontro-me em transição, trocando a produção por ministrar aulas. Foi algo que sempre tive vontade de fazer e que vai acabar se aproximando mais dos meus projetos atuais. Terei mais facilidade em “linkar” o conteúdo das aulas e oficinas com os outros projetos. Mais adiante eles acabarão sendo uma coisa só.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Quando tiver velinho serei diretor de filmes pornô! Um novo pornô, sem dúvidas.

Créditos das imagens utilizadas no mural (em sentido horário):
Imagem 01 Verena Smit

Imagem 02 - Verena Smit
Imagem 03 - Paulo Bueno
Imagem 04 - 
Paulo Bueno
Imagem 05 - 
Verena Smit
Imagem 06 - 
Verena Smit
Imagem 07 - 
Ezyê Moleda
Imagem 08 - 
Verena Smit
Imagem 09 - 
Nikhil Prem
Imagem 10 - 
Marcelo Paixão
Imagem 11 - 
Verena Smit
Imagem 12 - 
Verena Smit


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Entrevista com Thiago Amaral


Cada vez que realizo pessoalmente ou recebo via e-mail uma entrevista do Cultura Artfício, fico fascinado com as reflexões que cada uma me incita, geralmente trazendo nova luz às sempre mesmas questões que são feitas a todos os entrevistados. Quando Thiago Amaral disse que passou a se considerar profissional ao discordar da visão que dissocia a formação pessoal da que profissionaliza, me deparei com as seguintes questões: Qual a linha que separa uma da outra? Seria a teoria mesmo apenas restrita à formação pessoal e a prática à profissional? Seguramente não. Este é mais um dos reducionismos utilizados para categorizar as coisas, sem devidamente problematizá-las. Afinal, a formação profissional não passa pelo apreender acadêmico? Se a divisão entre ambas existe, ela definitivamente é bem mais tênue do que a Wikipédia sugere. A colocação do artista em oposição à segregação do saber e da práxis, ao lado dos outros temas que aborda na entrevista que segue, no fim das contas se revelou um exemplo bastante ilustrativo de sua forma de perceber e realizar as coisas, que parece constantemente colocar os limites à prova. A Extinção dos coelhos selvagens”, seu solo que faz parte do espetáculo teatral “Ficção” junto às criações dos outros atores da Cia Hiato, desafia o limiar do real e do encenado. O mote é a retomada de sua relação com o pai, que participa da obra. Porém, nada mais emblemático de seu exercício de sobreposição de conceitos e possibilidades que a radicalização da ficção na realidade como o Coelho Amoral, híbrido de personagem e alter ego que de Thiago Amaral fez Amoral. O Coelho está solto e ele pode aparecer em qualquer lugar a qualquer hora: banhado de sangue acompanhado de uma criança no dia das eleições, ou participando de um flash mob de Bollywood Dance com mais de oitenta pessoas na avenida Paulista. Fiquem de olho nele! ”Ficção” está em cartaz na Caixa Cultural RJ, no Rio de Janeiro, de 11 de abril a 05 de maio, e no Centro Internacional de Teatro Ecum, em São Paulo, de 12 de abril a 12 de maio.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

No circo. Nas praças. Na casa de parentes que se juntavam para cantar antes e depois de um almoço de domingo farto e que eram transformados por uma alegria simples.

2. Qual a sua formação?

Artes Cênicas / USP / São Paulo; Zoologia / UFPR / Curitiba; Bollywood Dance / Índia; Clown / Quito.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Fiz artes plásticas, dança e música quando era filhote. Comecei com tinta óleo, axé music, lambada, flauta doce e piano.  Paralelamente eu fazia natação, handball, basketball e volley, quando tinha tempo. Futebol nunca me atrevi porque era realmente muito ruim. E sempre gostei de brincar de cientista em casa com minha coleção de bichos mortos no formol, microscópio e fitas VHS sobre os seres vivos. Além disso, nunca tive religião e sempre gostei de pular por todas. Descobri que o artista pode juntar muitas áreas, muitos assuntos, muitas práticas corporais e transitar por elas por tempo indeterminado ou determinado. Isso é um pouco libertador: levar meus interesses e desejos de pesquisa passearem por vários universos.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Já fiz animação de festa na Palestina. Já dei aula de dança e teatro no Timor-Leste. Já fui assistente de show de Mágica, em São Paulo.  Fiz bollywood dance na Índia. Tenho uma Companhia de Teatro, da qual faço parte como ator, que se chama Cia Hiato (ciahiato.com.br). Faço festas de Coelho. Já morei na Serra da Capivara - PI fazendo performances e body-art.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

A cada trabalho tenho novas influências e referências. A cada nova parceria um outro universo compartilhado. Difícil a resposta, mas há uma mestra que está no meu altar há 7 anos e que ainda vive: Cristiane Paoli Quito.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Quando discordei da Wikipédia, que diz o seguinte sobre a formação pessoal: “Formação Profissional não é igual à Formação Pessoal, como no caso do estudo de um tema ou matéria em particular no âmbito de uma investigação. Formação Profissional é de âmbito prático e Formação Pessoal do âmbito teórico, do estudo, do ensino.”

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Não tive julgamento pré-concebido. Quando vi já fazia por inocência, depois por alegria, depois por amor, depois por dinheiro. Hoje somo todas essas necessidades.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que é um laboratório livre.  Que é comunicação. Que é um atletismo das emoções. Que pode ser transformadora. Que deve ter um sentido pra mim. Que deve ser algo que me dê prazer.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Depende da época. Varia muito. Faço aulas que considero como treinamento do ofício: clown, bollywood, natação, musculação. Dou aula de interpretação e bollywood. Faço assistência de direção para a Isabel Teixeira com o terceiro ano da Escola de Arte Dramática (EAD). Ensaio e apresento meus espetáculos aos finais de semana, o que algumas vezes também acontece durante a semana.  Ensaio e produzo um novo espetáculo infantil com data de estreia marcada para Julho.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim. Você está me lendo pela internet. Através do meu blog e do Facebook eu compartilho as fotos que tenho feito. Divulgo e comunico o que faço pela rede. Porém, ainda preciso saber mais sobre esse campo e ampliar as possibilidades trazidas por ele.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Tem que ser. É a aposta que eu fiz. Tem dado até hoje. Mas ainda estou com o Renavam atrasado.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Não sei fazer essas projeções de mercado, de desenvolvimento da cultura, do teatro amanhã e de mim na arte amanhã. Vivo como se pudesse morrer logo mais.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Dou um jeito de colocar o assunto em pauta através do meu blog e do meu perfil no Facebook.

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Thiago Amoral.


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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Entrevista com Paolo DeMitri


Dentro de um museu vejo um sujeito de gravata verde fazendo truques para um grupo de visitantes. Fico atento, mas logo o show termina. Visito a exposição daquele andar e quando retorno ele ainda está por ali, sozinho, num terraço do prédio. Estou acompanhado de minha família e, depois de nos apresentarmos, pedimos a ele um truque. O homem sorri e engata uma conversa amistosa que aos poucos se revela parte do show que, não sabíamos, ele esperava o horário para começar na parte interna do local. Outros visitantes foram juntando-se a nós e tornando-se espectadores do que acontecia naquela interação iniciada tão espontânea e despretensiosamente. Aquele último espetáculo do dia não mais aconteceria em outro lugar, e sim ali mesmo. Conforme o nosso bate papo foi se transformando, sentei-me ao seu lado para observar os rostos de adultos e crianças que se contraíam em interrogações e se iluminavam em exclamações conforme ele fazia seus truques. Fomos os primeiros a chegar e os últimos a sair dali naquele fim de tarde, pois o meu amor pela arte e o compromisso de divulgá-la me incumbia de entrevistá-lo pelo Cultura Artfício. Seu nome é Paolo DeMitri e o que ele faz é mágica! O retrato do artista foi feito pelo Mágico Geraldin.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Em um primeiro momento, muito jovem ainda, lembro de ter visto um mágico na casa de um amigo meu. Só me lembro de um efeito... É até difícil dizer se isso, de fato, é uma lembrança ou uma pegadinha daquelas que o cérebro apronta. Na minha época de faculdade vi Paul e Jack em um bar, mágico que viria a ser um grande amigo, apresentando close-up (mágica de "proximidade", realizada próximo do espectador). Cerca de 15 anos depois do contato inicial quando criança tive o mais marcante, novamente em um bar (neste eu era bartender, uma variação de barman), o TGI Fridays. Foi onde eu conheci o Mário Kamia, outro que se tornou um grande amigo!

2. Qual a sua formação?

Na mágica sou autodidata. Comecei observando, li livros e assisti vídeos importados, com conteúdo teórico e prático. Fora isso, devo citar que tenho um grande amigo que é um dos maiores mágicos do Brasil e me ajudou muito pela sua experiência, o Élio (que eu chamo de Mestre).

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Sempre fui ligado às artes, tendo interesse em pintura, escultura, teatro, cinema e, lógico, mágica! Durante o tempo que trabalhei no TGI Fridays o meu diferencial foi o atendimento. Sempre gostei de conhecer gente diferente, outras histórias, e, durante a conversa, fazia algumas mágicas para o entretenimento dos meus clientes. Em 2002 eu saí de férias da empresa já decidido a não voltar. O que aconteceu é que tinha uma casa noturna em Itu, aonde eu me apresentava com frequência, então acabei optando por ficar apenas com as apresentações semanais nessa casa, até que comecei também a fazê-las em outro local, em Sorocaba. Quando voltei para São Paulo optei por ficar apenas com a carreira de artista!

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Sempre tive facilidade em me comunicar, o que criou um diferencial e facilitou minha entrada no meio mágico. Logo no início, trabalhei em parceria com alguns dos melhores e mais conceituados profissionais do Brasil. Comecei a frequentar reuniões destinadas a estudos da arte e até a fornecer produtos para as apresentações de outros mágicos. Fundei a Psycho Magic, com meu sócio Fernando Ventura, empresa que além de shows de mágica, oferece shows de hipnose, palestras e treinamentos corporativos. Venci o “Gran Prêmio Empreendedores do Mercosul 2011”, assim como um vice-campeonato e um terceiro lugar em competições de mágicos. No final de fevereiro de 2013, participei com meu sócio na categoria “Mágica Argumentada” (em síntese, uma apresentação com história), e, no “Congresso Latino-americano de Mágica” conseguimos o terceiro lugar, sendo que não houve primeiro por conta do critério de pontuação. Tenho também um programa na internet direcionado a mágicos, chamado “Programa AMAZING!”, no qual entrevisto alguns dos melhores do ramo no país.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Se formos considerar como influência artistas que de algum modo alteraram ou orientaram minhas apresentações, a lista é imensa! No Brasil citarei Élio, Rafael Versolato, Fernando Ventura, Rafael Baltresca e muito mais gente, então cometerei a sábia decisão de parar por aqui, pois você me deu apenas 8.975.345.224.116 caracteres para esta entrevista! Eu citaria ainda dois mágicos, um americano e um argentino, que têm como maior diferencial as suas apresentações e, de certa forma, me "mostraram" que eu poderia ir um pouco além do convencional. Eles são Amazing Johnathan e Merpin.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Essa é uma pergunta difícil... Quando decidi que iria viver da mágica? Quando comecei a encarar com seriedade? Quando fui reconhecido como mágico? Quando tirei DRT? Creio que a melhor resposta é "quando passei a dedicar meu dia ao treino, pesquisa, atendimento de clientes, prospecção e tudo que é relacionado ao meu trabalho, ao menos 8 horas por dia".

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Sempre vi como uma arte. Cresci vendo David Copperfield na TV e tinha muita admiração por ele, mas sempre soube que não era simplesmente estalar os dedos ou comprar uma varinha. Nunca tive uma impressão errada da profissão, que era fácil ou enganação.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que está um pouco poluída. Infelizmente, a mágica é atraente e impressionante, o que muitas vezes ilude mais quem a faz do que quem a vê!
Ela dá um poder pessoal que por vezes a pessoa acha suficiente e esquece que o mais importante é respeitar a arte e tratá-la com a mesma seriedade que merece o espectador.

9. Como é o seu dia de trabalho?

É muito variado. Depende da época do ano e da frequência de trabalho. Muitas vezes dedico o dia inteiro apenas para um show, revisando o material e ensaiando, outras vezes é só atender clientes, formatar o orçamento de acordo com a necessidade deles e organizar documentos.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim! São ferramentas de divulgação e contato muito eficazes. Com a Internet, muitas vezes o cliente tem um leque maior de opções, o que cria a necessidade de um diferencial. Com as redes sociais, você fica presente e lembra constantemente seus amigos do seu trabalho, pois as uso para divulgar shows abertos ao público e novidades. Como citei, também a utilizo para o meu programa de entrevistas, o AMAZING!, de forma a aproximar, ao vivo, os internautas dos melhores mágicos do Brasil.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Sim, há momentos com a agenda mais cheia que outros e é necessário administrar isso. Fazer uma programação dos seus custos/ganhos é a melhor forma.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Para se ter noção de como a situação é hoje, um projeto de show de mágica não é considerado um evento cultural pela Secretaria de Cultura! Isso demonstra que, no Brasil, a noção de cultura é distorcida para o público, mas há gente interessada em mudar isso. Acredito que esta luta para transformar a percepção das pessoas com relação ao que é cultura será o grande desafio dos mágicos.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Muitas vezes quem vê de fora não faz ideia. Dá trabalho, exige tempo e dedicação e não é tudo "num passe de mágica". Se você é daqueles que diz "não gosto de mágica", tenho uma má notícia: Você gosta de mágica, mas não deve gostar de algum mágico que transformou a arte em um duelo, que lhe provocou para que você adivinhasse algo ao invés de lhe fazer se emocionar ou lhe entreter, transformando esta experiência em algo inesquecível, no bom sentido. Se tem algo em um quadro que te desperta um sentimento ruim, a “culpa” não é da arte, é do pintor! O brasileiro ainda precisa ser educado para a arte, saber o que pode exigir de um artista. Reconhecer o que é um bom trabalho é difícil, mas quando isso ocorre a experiência torna-se surpreendente!

Para conhecer mais do trabalho de Paolo DeMitri, visite sua página oficial:
Assista ao seu "Programa AMAZING!":
http://programaamazing.blogspot.com.br/
E curta a sua página no Facebook para saber o que ele anda fazendo:
http://www.facebook.com/oSegundoMelhorMagicoDoMundo


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