Cássio “Catito” Carvalho é um cantor e compositor
brasileiro radicado na Argentina. Ele lançou o projeto de financiamento colaborativo
para a feitura da arte e prensagem do seu terceiro disco, “Saudá”, através do
Ideame, o maior site de crowdfunding da América Latina, dentre vários
outros ao redor do mundo, como o Kickstarter, o Indiegogo, e o brasileiro
Catarse. Neste tipo de iniciativa, através da colaboração do público, que é recompensada
de diferentes formas dependendo do valor investido, o artista pode realizar o
projeto que propõe ou parte dele, dependendo do quanto arrecadou do orçamento
previsto e das políticas de cada mídia social, que pode ou não permitir o uso
do dinheiro quando a quantia arrecadada é menor que a pedida pelo proponente.
No caso de Cássio, sua proposta foi feita para finalizar um trabalho que já havia
sido gravado, mixado e masterizado. É com muita alegria que agradecemos o apoio
recebido e informamos que o projeto alcançou a sua meta antes mesmo de ser
finalizado, tendo arrecadado até o prazo final 140% do valor necessário para a
confecção do número de cópias estipuladas inicialmente, o que permitirá que
outras mais sejam feitas. Este projeto não teria sido viabilizado sem o seu
apoio, e é por isso que este tipo de iniciativa é tão importante, por permitir
a realização de projetos criativos de uma forma pouco burocrática e de baixo
risco financeiro aos incentivadores, além de tudo, permitindo ao artista levar
o seu trabalho a um público ainda maior que o de sua própria rede. Aproveitem
para conhecer novos projetos e, quem sabe, inscrever alguma ideia que precise
de recursos financeiros para ser concretizada! Diante dos recentes
acontecimentos sociopolíticos no Brasil e no mundo, o CulturaArtfício reafirma a sua crença na
legitimidade das lutas sociais, assim como na fundamentalidade da Internet como
espaço para a manifestação da opinião pública e a divulgação de acontecimentos
concernentes à sociedade. O espaço virtual é a ágora mundial! A informação
precede o ato e o ciberativismo a divulga. Da Internet às ruas a luta continua!
O exemplo de Catito é mais uma amostra do quão amplas são as possibilidades de
ação e busca pela mudança do status quo. Com vocês, sua inspiradora
entrevista. Mais uma vez, MUITO OBRIGADO! Juntos e bem informados somos mais
fortes do que imaginamos. Cássio “Catito” Carvalho foi retratado por EvaHarvez nas fotos do mural.
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Com cinco ou seis anos, quando íamos ao recital da mostra
de alunos da escola de música Escala, da Walkíria Passos Claro. Éramos
espectadores dos nossos próprios colegas e também nos apresentávamos. A escola
existe até hoje e é referência em educação musical para bebês e crianças. É um
privilegio ter conhecido a Walkíria.
2.
Qual a sua formação?
Academicamente, sou formado em Composição Musical na
FAAM e em Comunicação na FAAP. Mas considero que minha principal formação é a
de casa, a da liberdade que meus pais me deram para ir, ir e ir no caminho
artístico. Existem professores e amigos que marcaram a minha vida e são
referencia no meu “pensar e ser”. Neste sentido, a minha formação, por
influencia e incentivo dos meus pais, é muito eclética.
3.
Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma
intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Não escolhi ser artista, mas me lembro perfeitamente
de quando desejei ser músico. Isso foi já com dezenove anos. Estava começando a
ter aula de violão com o Ulisses Rocha, e lembro que na terceira aula perguntei
pra ele: “Ulisses, será que dá tempo de ser músico?”. Nesse momento, com muita
sinceridade e pés no chão, ele me deu uma aula sobre decisões na vida.
4.
Você pode nos contar um pouco da sua carreira?
Estou terminando de gravar meu terceiro disco,
"Saudá". O primeiro foi o "Rumores" (produzido pelo Pipo
Pegoraro), de 2005, e depois foi o "Casa em Construção", de 2009,
disco que anunciava minha despedida do Brasil. O "Saudá" é meu
primeiro disco gravado na Argentina, depois de quatro anos como residente, com
músicos daqui (Buenos Aires) e tal. Acho que será o primeiro com conceito claro
de "álbum", de unidade. Escolhi o Fabián Martin para ser o produtor e
diretor musical. O trabalho dele foi fantástico, tanto organizacional como
musical, de direção e produção do disco. Já se passaram oito anos desde o
primeiro disco, não sei se é bem uma carreira, o que sinto é que tenho a sorte
de poder "viabilizar" essas canções que construo ou invento. Paralelamente,
sou um apaixonado pelo audiovisual e realizei trabalhos como o vídeo
"Contrapeso", que me dão uma certa satisfação. A educação é outra
paixão e parte da minha vida. Trabalhei em São Paulo como arte educador e agora
sigo este caminho em Buenos Aires também em escolas e espaços especializados em
arte para "niños". E na área de música infantil teremos boas
surpresas para os próximos anos: estou preparando um disco infantil, um canal
no YouTube com vídeos de jogos educativos/musicais para as crianças. Para
completar, estou preparando três livros de ficção para crianças. Vamos
ver...
5.
Quais artistas lhe influenciaram?
Acho que o artista mais importante para mim foi um
professor, o Ricardo. Talvez por isso eu tenha encontrado na educação uma parte
inseparável do meu fazer artístico. O Ricardo Rizek, tenho certeza, é para
muitos colegas meus essa referência mágica e poderosa dentro da Arte. Anteriormente
na entrevista eu disse que meu primeiro recital como espectador foi aos cinco
anos na escola de iniciação musical. Porém, isso oculta um fato interessante a
respeito do meu interesse pela música. A verdade é que, na adolescência, eu não
tinha interesse concreto pela musica. Gostava de gravar e editar vídeos das
festas familiares e depois dublar, colocar música e tal... Mas isso era uma
brincadeira natural, como jogar videogame. Tinha mais a ver com uma
investigação "eletrônica" que com uma questão artística, por assim
dizer. No entanto, tenho até hoje a sensação de que "algo me
despertou de um sono profundo": o show "Circuladô", do Caetano
Veloso. Fui por casualidade a este show, sobrou um ingresso e meus pais me
convidaram. Lembro-me que fui meio sem querer, sem vontade até. Meus
pais e meu irmão mais velho, Juliano, já escutavam muito musica brasileira em
casa, muito engajados com o que seria depois para mim a grande paixão. Depois desse
show entendi que a música era algo diferente, especial. Apaixonei-me por isso.
Comecei a perceber que o que meu irmão ouvia era o que em realidade manteria
esse sonho acordado. Aquela musica me havia despertado para o sonho... Com
isso, posso dizer que tanto o "Circuladô" quanto o meu irmão foram
dois elos que definiram minha sorte neste começo.
6.
Quando passou a se considerar profissional?
Acho que depois do primeiro CD, em 2005, quando
vieram os primeiros shows autorais.
7.
Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Uma ideia distante. Sempre foi difícil para mim
pensar, imaginar a rotina, o trabalho dentro da música. Como ganhar dinheiro,
como pagar o aluguel. Tive que ir vivendo isso para poder entender por onde e
como se davam estas coisas.
8.
Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Que depende de muitas coisas, que não é só a
composição, só a criação. É empreender, gerar trabalho e contatos, atirar no
escuro e, o mais importante, saber o que me motiva.
9.
Como é o seu dia de trabalho?
Tenho muitos trabalhos. Me esforço para ter rotina
porque me faz bem. Mas é difícil. Às vezes é um dia mais de estudo, às vezes
mais de leitura, no outro pode pintar um poema, a edição de um vídeo, no outro
chamar músicos pra ensaiar, no outro resgatar alguma melodia perdida no gravador
e colocar letra, terminar a idéia. Buscar, buscar... O divertido e o complicado
de ter o privilégio de trabalhar por prazer é que este não se limita a cargas
horárias. Entra e sai fim de semana e o cara está ali com aquele mundo na
cabeça. Tudo é trabalho e matéria prima, neste caso.
10.
Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Sim, totalmente. Lembro que quando terminava uma música,
mostrava pra família e isso já era muito... Hoje, temos a oportunidade de
mostrar em pouquíssimo tempo logo para uma centena de pessoas. Isso enriquece o
caminho porque inspira a produzir, a melhorar, a desenvolver etc. Também
estamos comemorando outra vitoria "virtual". Recentemente, tivemos
êxito no processo de Financiamento Coletivo: através do site Ideame arrecadamos
fundos para a prensagem do álbum "Saudá", por exemplo. Uma coisa
absolutamente incrível e que sem as redes sociais e a Internet seria
impensável. O Financiamento Coletivo abre portas para transformar muitos
paradigmas em relação a projetos artísticos e culturais independentes. É uma
nova e poderosa ferramenta.
11.
É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Às vezes digo que não quero viver da arte porque ela
não merece tanta porrada da vida [risos]. Pago as contas com a somatória
de uma série de afazeres em educação e arte. No meu caso, como eu disse antes,
estão de mãos dadas a arte e a educação.
12.
Como você acredita que será o futuro da sua profissão?
Mais ou menos como é agora, neste começo dos anos de
2010. Muita diversidade e espaço para todos.
13.
Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Não saberia dizer agora. Fica para uma próxima?
Para conhecer mais do
trabalho de Cássio “Catito” Carvalho, visite sua página oficial:
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