sábado, 14 de setembro de 2013

Entrevista com Paulo Neto

Às vezes precisamos que alguém sinalize o que somos para darmos voz a um talento. Foi assim com Paulo Neto. Embora tenha começado sua carreira artística ainda adolescente como desenhista, descobriu-se cantor através de ouvidos alheios, que lhe apontaram sua habilidade vocal. Cantou em bares, casas de shows e comandou trios elétricos, até que findou participando de dois reality shows, "Fama" e "Ídolos", antes de se mudar de Condado, interior de Pernambuco, para São Paulo. Foi onde, depois de um percurso que incluiu a sua participação em importantes projetos culturais e a sua premiação no  “22º Prêmio da Música Brasileira” (melhor interprete na categoria “Vale Cantar Noel”), concebeu o que considera o seu primeiro disco, junto ao produtor Thiago Marques Luiz, intitulado "Dois animais na selva suja da rua", em 2011 – dois anos antes fez o CD “Samba eu Canto”, que lhe serviu como o registro do percurso de aprofundamento que havia feito recentemente pelo ritmo, assim como de cartão de visitas a contratantes e produtores. Depois de uma crise carregada de incertezas sobre o que poderia ter entregado em “Dois animais...”, trabalho que recebeu boas críticas, voltou a querer trabalhá-lo em shows para finalizar seu ciclo em grande estilo, com o lançamento de um compacto em vinil com duas músicas do álbum e as duas faixas do repertório complementar ao disco, lançadas em 2012 como single. Neste ínterim, junto à cantora e compositora Isabela Moraes, e ao multi-instrumentista Joan Barros, começou um projeto que remonta ao que engendrou o desejo deles pelo caminho da música, chamado “Bon Vivant”. Enquanto todos têm pressa para seguir adiante, o show propõe uma retomada do momento anterior à carreira de fato, com o intuito de celebrar o que os formou como ouvintes e, certamente, artistas. Só então Paulo Neto pretende seguir adiante, sem jamais se perder de si próprio. O show “Bon Vivant” terá sua estreia neste sábado, na Casa Musicoteca. As fotos do centro do mural e das capas do disco e single "Dois animais na selva suja da rua", são de Naíra Messa; as do canto superior esquerdo e direito são de Lauro Lisboa.


1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Desde muito pequeno o meu brinquedo era o meu caderno de desenho. A minha mãe era fã e ouvia os artistas populares da época, como Fagner, Joanna, Fábio Jr., Roberto Carlos... Já a minha vizinha ouvia o pop do pop, artistas considerados bregas, como Odair José, Amado Batista, Márcio Greyck, Reginaldo Rossi... Esses foram meus primeiros contatos com a música. Meu avô tocava sanfona (muito Luiz Gonzaga) para os netos ouvirem aos domingos. Enquanto ele tocava, eu desenhava.

2. Qual a sua formação?

Estudei canto popular na antiga ULM, hoje EMESP Tom Jobim, aqui em São Paulo. Mas o que me formou de verdade foi tocar na noite, em barzinho. O palco que é uma grande escola, a maior de todas.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Eu já tinha encanto pelo desenho e, depois de subir ao palco, acho que ficou mais claro pra mim o meu oficio. Como eu não tinha apoio familiar, estava prestes a fazer Educação Artística ou Desenho Industrial, quando surgiu a oportunidade de participar do programa “Ídolos”. Foi aí que decidi mudar definitivamente para São Paulo e viver de música.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Minha estréia foi em 2002, em um show para aproximadamente cinco mil pessoas na minha cidade, depois de indicar um amigo que não conseguiu cantar por vergonha. Eu, pra desinibi-lo, acabei cantando junto e findei sendo chamado pra cantar. Este show me rendeu um bom cachê e mexeu comigo. (risos) Daí em diante não parei mais. Em 2006, participei do reality show “Ídolos”. O programa serviu para me trazer pra São Paulo, foi quando comecei a estudar canto na Universidade Livre de Música, hoje EMESP - Tom Jobim, o que me abriu muitas possibilidades, como cantar com a Orquestra Tom Jobim na Sala São Paulo. Em 2011, fui premiado como melhor interprete, na categoria “Vale Cantar Noel”, do Prêmio da Música Brasileira. A partir daí tive a oportunidade de gravar o meu primeiro disco, “Dois animais na selva suja da rua”, com produção de Thiago Marques Luiz e direção artística do (também DJ) Zé Pedro, lançado em 2012. Depois dos shows para promover o CD, lançamos um single com as canções “Sintonia” (Moraes Moreira/Zeca Barreto/Fred Góes) e “São João do Carneirinho (Frevo)” (Isabela Moraes), que complementaram o “Dois animais...”. Agora venho pensando no novo disco, formando o repertório, já decidindo o seu conceito estético, ao mesmo tempo  em que faço shows e participo de projetos paralelos como o “Bon vivant”, com Isabela Moraes e Joan Barros, que fala da nossa trajetória.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Fui muito influenciado pela literatura de cordel. Meu avô é cordelista por hobby, e meu vizinho, José Costa Leite, é um dos maiores autores do gênero no Brasil. Da música, tive muita influência de vozes masculinas. Eu era fissurado pelo Emílio Santiago e pelo Caetano Veloso.

6. Quando passou a se considerar profissional?

No primeiro show.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Sinceramente, eu não tinha a mínima ideia. Quem tem uma visão externa geralmente acha que é muito fácil pelos momentos mágicos que a arte pode proporcionar. Eu não pensei muito sobre isso. Esse é o meu jeito.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Ser artista é uma delícia, é tão comum para mim que eu não consigo olhar com distanciamento. Por outro lado, é uma profissão difícil, uma caixinha de surpresas, além de ser cheia de cobranças.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Depende muito... Se é dia de show, tenho meus rituais... Tomo meus cuidados com a voz fazendo uma serie de exercícios para aquecê-la, e medito para estar inteiro no palco. Faço aulas de canto. Tem dias em que ensaio. E tem os nos quais eu só penso sobre a criação de alguma canção, ou escrevo algum texto. Assim como tem vezes em que já acordo desenhando. (risos)

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Elas ajudam e prejudicam. Ajudam, pois muitas pessoas de diferentes lugares podem ter acesso ao meu trabalho através da indicação ou compartilhamento de amigos, por exemplo. Prejudicam, pois as promoções pagas que “sugerem” certos conteúdos muitas vezes desvirtuam a atenção do público. Contudo, a Internet permitiu que mais artistas passassem a existir além da televisão e da grande mídia.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

É bem difícil, mas é possível. Como todo profissional, você precisa se destacar para isso te gerar outras possibilidades. É preciso ser agradável, comunicativo, fazer um bom show que agrade as pessoas. Saber vender o seu produto e entrega-lo da melhor forma possível, ser um bom profissional.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Eu não consigo imaginar, não penso muito sobre... Quero continuar me mantendo e galgando os degraus internos como ser humano e artista. Espero que este excesso de informações de hoje passe por um funil e que permaneça somente o que for bom.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Por hoje não. (risos)

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